Aspectos práticos da cobrança de dívidas em contratos comerciais

Na dinâmica empresarial, a concessão de crédito é uma ferramenta comum para impulsionar negócios, mas com ela vem o risco da inadimplência. Quando isso ocorre, a cobrança de dívidas se torna um processo essencial, especialmente para credores de altos valores, que não podem se dar ao luxo de prejuízos consideráveis.  

Neste contexto, é vital adotar estratégias robustas que equilibrem a eficiência na recuperação de créditos e a preservação de relações comerciais, respeitando os limites impostos pela legislação brasileira. Siga com a leitura para compreender os principais pontos desse assunto tão importante nos dias de hoje. 

Estrutura dos contratos comerciais e cláusulas importantes 

Contratos comerciais são a espinha dorsal de transações de alto valor. O inadimplemento em contratos comerciais de grandes valores exige uma abordagem imediata e estratégica. Ao estabelecer contratos, é importante garantir que cláusulas direcionadas tragam mais segurança jurídica para o negócio, como: 

Cláusula de garantia 

A inclusão de garantias, seja por meio de bens móveis, imóveis ou garantias pessoais, como avalistas ou fiadores, é uma prática comum e eficaz para assegurar o cumprimento das obrigações contratuais. Elas oferecem ao credor maior segurança na recuperação da dívida, permitindo a execução direta de bens do devedor em caso de inadimplência. 

Cláusula de confissão de dívida 

A cláusula de confissão de dívida permite que o credor, em caso de não pagamento, utilize essa confissão como título executivo extrajudicial, facilitando uma ação de execução direta, sem a necessidade de processo de conhecimento. Para contratos de alto valor, essa cláusula acelera o processo judicial e reduz os custos de cobrança, por exemplo, ao incluir uma cláusula de confissão de dívida, imagine um cenário em que uma empresa de fornecimento de equipamentos tecnológicos concede um crédito de R$ 500.000 a um cliente. Em caso de inadimplência, essa cláusula permite que a empresa agilize o processo de execução e recupere o valor devido em um tempo muito menor 

Cláusula penal 

Estabelecer multas e penalidades claras em caso de atraso ou inadimplência pode ser um forte elemento de dissuasão. A cláusula penal define as consequências financeiras do descumprimento contratual, geralmente na forma de um percentual sobre o valor devido, e pode incluir a incidência de juros moratórios e correção monetária. Esse tipo de cláusula é essencial para contratos que envolvem grandes somas. 

Cláusula de juros e correção monetária 

A definição prévia de juros por inadimplência e a correção monetária com base em índices oficiais garantem ao credor o recebimento atualizado da dívida, evitando perdas financeiras em razão da inflação ou da demora no pagamento. Esses parâmetros precisam estar detalhados e claros, conforme as práticas de mercado e a legislação aplicável. 

Cláusula de rescisão antecipada 

Contratos de grande porte devem prever condições para rescisão antecipada em caso de inadimplência ou quebra de obrigações essenciais. Essa cláusula protege o credor, permitindo-lhe interromper a execução do contrato e evitar mais perdas. Também deve conter disposições sobre a devolução de valores ou compensação de prejuízos decorrentes do rompimento antecipado. 

Cláusula de foro  

A cláusula de foro é uma disposição contratual que define o local, ou seja, a comarca ou jurisdição onde eventuais disputas relacionadas ao contrato serão resolvidas judicialmente. Para o credor, essa cláusula é extremamente benéfica, pois permite escolher um foro que seja mais conveniente, geralmente o da sua sede ou domicílio, o que facilita o acompanhamento de processos judiciais e reduz os custos operacionais com deslocamentos. Além disso, ao evitar a necessidade de litigar em foros distantes ou menos favoráveis, o credor diminui os riscos de enfrentar dificuldades logísticas ou prazos processuais mais lentos, otimizando a cobrança de dívidas e a resolução de conflitos. 

Inclusão de tabela com cláusulas, descrição e benefício para uma melhor compreensão, exemplo:  

Cláusula 

Descrição 

Benefício Principal 

Cláusula de Garantia 

Assegura o cumprimento contratual com garantias reais (bens móveis, imóveis ou garantias pessoais). 

Aumenta a segurança na execução da dívida, permitindo penhora direta de bens. 

Cláusula de Confissão de Dívida 

Permite execução extrajudicial da dívida com base em um título executivo. 

Acelera o processo de cobrança, evitando a necessidade de processo de conhecimento. 

Cláusula Penal 

Define multas e penalidades em caso de atraso ou inadimplência. 

Desestimula o descumprimento e protege o valor da dívida, aplicando sanções. 

Cláusula de Juros e Correção Monetária 

Estabelece juros por inadimplência e correção monetária com base em índices oficiais. 

Garante o valor atualizado da dívida, evitando perdas financeiras por inflação. 

Cláusula de Rescisão Antecipada 

Prevê a rescisão do contrato em caso de inadimplência ou quebra de obrigações essenciais. 

Protege o credor de maiores prejuízos, permitindo a interrupção do contrato. 

Cláusula de Foro 

Define o local onde eventuais litígios serão resolvidos. 

Facilita a resolução de disputas ao determinar um foro específico, evitando dúvidas. 

  

Abordagem estratégica de cobrança extrajudicial 

Algumas práticas extrajudiciais amplamente adotadas no mercado incluem: 

Negociação direta com condições especiais 

Empresários que lidam com grandes valores sabem que, em muitas ocasiões, uma renegociação bem estruturada pode ser a melhor solução. Oferecer ao devedor condições diferenciadas, como extensão de prazos ou descontos para quitação imediata, muitas vezes gera resultados rápidos sem comprometer o fluxo de caixa do credor. Importante destacar que essas negociações devem ser formalizadas em aditivos contratuais, garantindo a segurança jurídica do credor. 

Protesto de títulos 

Protestar títulos de crédito, como duplicatas e notas promissórias, é um mecanismo de grande impacto, especialmente em transações de alto valor. O protesto pode rapidamente comprometer a reputação do devedor, limitando seu acesso a crédito no mercado. Para credores, é uma ferramenta poderosa que pode acelerar o recebimento, evitando a necessidade de ações judiciais. O protesto é regido pela Lei nº 9.492/1997 e oferece rapidez e eficiência, sendo uma das primeiras medidas adotadas por grandes credores. 

Inclusão em cadastros de inadimplentes 

A inclusão do devedor em cadastros como SPC e Serasa também é uma prática eficaz. Para transações de grande porte, essa ação pode exercer pressão significativa, visto que a capacidade de crédito do devedor é seriamente afetada, o que geralmente o motiva a regularizar a situação para evitar restrições financeiras. 

Cobrança judicial: medidas para credores de altos valores 

Existem ferramentas processuais específicas que podem maximizar a recuperação dos créditos e minimizar perdas financeiras: 

Ação de execução 

A ação de execução é a medida mais eficaz para credores que possuem títulos executivos, como cheques, duplicatas ou contratos com cláusula de confissão de dívida. Essa ação permite ao credor, após a intimação do devedor, requerer medidas como penhora de bens, bloqueio de contas bancárias via BacenJud e, em casos mais complexos, a alienação de bens do devedor. 

A execução é rápida e segura, e seu sucesso depende da qualidade dos documentos apresentados pelo credor. Para transações de grandes valores, garantir que os contratos sejam bem redigidos e que haja títulos executivos em caso de inadimplência é fundamental. 

Ação monitória 

A ação monitória é uma opção viável quando o credor não possui um título executivo formal, mas tem documentos escritos que comprovem a dívida, como contratos ou notas fiscais. Essa ação tem o potencial de ser mais rápida do que uma ação de cobrança comum e pode converter-se em título executivo judicial, caso o devedor não apresente defesa. Para credores de grandes quantias, essa ação pode ser uma alternativa eficiente quando a documentação é sólida, mas não formalizada como título executivo. 

Conclusão 

A cobrança de dívidas em contratos comerciais de alto valor exige uma abordagem estratégica que combine eficiência e segurança jurídica . Credores e empresários que lidam com grandes volumes devem estar preparados para utilizar tanto as ferramentas extrajudiciais quanto judiciais de maneira inteligente, sempre visando à preservação da saúde financeira de suas operações. O uso de garantias contratuais, políticas de crédito robustas e uma atuação rápida são fundamentais para a recuperação eficaz de créditos, ao mesmo tempo em que se busca manter boas relações comerciais, bem como, a boa reputação da empresa. 

Gostaria de entender como aplicar esses passos em sua empresa?  Entre em contato conosco! Será um prazer orientá-lo.